As cadeiras azuis do ginásio Code II desde cedo eram cobertas pelo verde, branco e vermelho da torcida mexicana. Até o presidente da República, Felipe Calderón, passou por ali no começo do dia e desejou boa sorte a Damián Villa. Nas semifinais, o mexicano vice-campeão do mundo em 2009 acabou com o sonho de Márcio Wenceslau. Ele queria levar para a filha, aniversariante do próximo mês, uma medalha de ouro. Prata no Pan do Rio, ficou com o bronze em Guadalajara, na categoria até 58 kg.
Mas o algoz de Wenceslau nesse sábado ainda tinha pela frente o dominicano Gabriel Mercedes Reyes, carrasco do brasileiro na final do Pan do Rio, em 2007. Como já havia feito com a torcida brasileira, o visitante mais uma vez fez a festa na cada do adversário e conquistou seu segundo ouro pan-americano.
Na primeira fase, enquanto a torcida vibrava a cada golpe de Villa, Márcio descansava. Quarto do ranking, ele entrou direto nas quartas de final e derrotou o uruguaio Mayko Votta para se garantir nas semis. Poucos minutos depois, Calderón entrou no ginásio. E foi aplaudido pela já empolgada torcida. Márcio ficou à espera de Damián.
- Já lutei com ele uma vez e ganhei. É um atleta muito forte - dizia o brasileiro antes da luta.Damián, depois de derrotar Josué Mejia, da Guatemala, recebeu parabéns de seu presidente, um dos primeiros a sair do ginásio antes do intervalo de três horas até as semifinais.
Após o descanso, os três mascotes do Pan chegaram pela primeira vez à casa do taekwondo. Boa parte do público voltou. E os dois lutadores foram para o duelo aos gritos de “México, México”.
Damián abriu 1 a 0, e Márcio foi para o ataque, mas deu um chute quando a luta estava parada e foi penalizado em dois pontos. O mexicano aproveitou o bom momento e acertou um chute na cabeça do brasileiro. Ele pediu revisão, mas a pontuação foi mantida: 5 a 0. A cada golpe certeiro do mexicano, o telão mostrava uma animação dos mascotes vibrando também: “Duro, duro!”. O placar chegou a 8 a 0.
O técnico Fernando Madureira tentava orientar o brasileiro durante o primeiro dos dois intervalos. A diferença caiu para 9 a 3. Agora, era o mexicano quem pedia revisão. Nada feito. Márcio tentou reagir, levou um chute em partes delicadas e caiu ao chão. Levantou-se, mas não conseguiu se reerguer para a virada. No terceiro round, tinha que tirar sete pontos de desvantagem. Mas Damián, empurrado pela torcida, não dava chances. Acertou um chute no rosto do brasileiro e sacramentou a vitória por 17 a 10.
Na final, no entanto, a torcida mexicana foi calada. Em luta muito equilibrada, o atual campeão pan-americano Gabriel Mercedes Reyes quase venceu nos últimos segundos do terceiro round, mas os árbitros tiraram o ponto (7 a 7). No round extra, o atleta da República Dominicana conseguiu repetir o resultado de quatro anos atrás, no Rio de Janeiro, e faturou a medalha de ouro contra Damián Villa.